segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Festival atrai admiradores da cultura japonesa


VI Festival da Cultura Japonesa ? XXI Bon Odori
Foto: Cristiana Serra/Tribuna da Bahia

Fabio Shin é paulista e desenha desde os 5 anos de idade. Quando era criança, costumava copiar os desenhos dos livros que seus vizinhos japoneses lhe emprestavam. Com 11 anos, ele já tinha inventado seus próprios personagens, criava as histórias e grudava os desenhos na parede da sala de aula, na escola.

Um professor viu, gostou e apresentou o trabalho do garoto, para um jornal de bairro, que começou a publicar as histórias em quadrinhos. Fábio ganhava apenas um Deus lhe pague, mas para ele era uma grande satisfação ver seus desenhos no jornal.

Aos 16 anos de idade, ele começou a estudar a arte do mangá, que, no Brasil, é conhecido como história em quadrinhos japonesa. Em 1996, ele se tornou o primeiro professor de mangá do bairro da Liberdade, em São Paulo. Hoje ele tem 10 escolas de mangá, 9 em SP e 1 em Maceió, com cerca de 1200 alunos.

O “Shin”, que acompanha seu nome, não é um sobrenome, mesmo porque ele não tem nenhuma ascendência japonesa. “Shin” significa “sentimento do coração”. Foi o dono de uma livraria do bairro da Liberdade que lhe deu esse apelido, em função dos sentimentos que ele passa através do desenho. Fábio disse que gosta de criar histórias com apelo emocional; prefere o drama à aventura.

Neste último fim de semana, Fábio Shin veio pela primeira a Salvador, para participar do VI Festival da Cultura Japonesa – XXI Bon Odori, que, este ano, teve o mangá como tema principal. O evento ocorreu nos dias 25 e 26, na sede da Associação Atlética Banco do Brasil (AABB), em Piatã.

Fábio não imaginava que a admiração pela cultura japonesa fosse tão forte em Salvador, e pode sentir isso desde que chegou ao aeroporto. Como estava meio perdido, parou para pedir informação a uma pessoa. Na conversa, mencionou o motivo de sua vinda à cidade. E a pessoa comentou: “que legal, vou passar lá também, adoro a cultura japonesa”.

Diversidade de atrações


O festival atrai milhares de pessoas de todas as idades, tanto aquelas que se interessam pelas manifestações mais pops da cultura japonesa - mangás, animês (animações japonesas), cosplay (hobby que consiste em fantasiar-se de personagens oriundos, em geral, de quadrinhos, games e desenhos animados japoneses) - , como as mais tradicionais, a exemplo das lutas, confecção de pipas e origami.

No Bon Odori, há de tudo, música, dança, desenho, artes marciais, culinária, tanto nas oficinas, como nas apresentações e mesmo nas barracas que vendem uma diversidade enorme de produtos orientais, como roupas, bonsais, alimentos, DVDs de novelas e filmes japoneses e muitos acessórios inspirados nos personagens dos animés.

Tainã Rosedal, de 28 anos, e Nilton Calvalcanti, de 25 anos, participam do festival desde a primeira edição. E esse ano especialmente foram fazer a divulgação de um fanzine criado por eles.

Tainã disse que não perde o festival, porque não há muitos eventos voltados para a cultura japonesa em Salvador, e os poucos que ocorrem são direcionados a um público mais específico que gosta de animês e mangás.

“São muito poucos os eventos que incluem música, dança, caligrafia. E o festival é também uma oportunidade de conhecer escolas de intercâmbio, descendentes e ficar mais próximo da cultura japonesa”, disse ela.

A aproximação com esse universo se deu pelo fato de tanto ela como Nilton desenharem mangás, mas vai muito além disso. “A identificação não é só como os desenhos, gostamos da moda, das músicas, do estilo de vida, comportamento, culinária, assistimos a novelas e filmes japoneses, temos nossos atores japoneses favoritos”, conta Tainã.

Nilton também falou que em eventos como o Bon Odori, eles se sentem mais livres e à vontade para usar um estilo de roupa que gostam, mas que, segundo eles, não dá para usar no dia a dia.

Para Tainã, usar uma fantasia facilita estabelecer relações com pessoas que gostam das mesmas coisas. “Com a fantasia, é mais fácil uma pessoa desconhecida te abordar, às vezes, só pelo fato de se estar vestido como o personagem preferido dela”, disse ela.

Moda urbana

Julieth Michelon, de 21 anos, e Jeane Marques, de 26, também são cosplayers, mas no Bon Odori não estavam interpretando um personagem, embora usassem roupas que lembram fantasias.
Elas fazem parte de um grupo formado por 25 pessoas, chamado Bahia Love Juku, que tem como inspiração a moda urbana japonesa, principalmente as roupas extravagantes usadas pelos jovens japoneses que se reúnem no bairro de Harajuku, em Tóquio. 

Julieth estava usando uma roupa do estilo Fairy Kei e Jeane usava um modelo do estilo Lolita Gótico. O grupo Bahia Love Juku costuma promover encontros em praças públicas, como o Campo Grande e a Centenário.

“A gente sabe que é estranho, que é algo que diverge do cotidiano de Salvador. Quando nos vêem há pessoas que dão risada, outras perguntam onde é o Haloween, ou se vamos fazer alguma apresentação de teatro ou participar de uma festa infantil, pois confundem a roupa com uma fantasia”, disse Jeane.

“Alguns acham que é ridículo, outros acham até bonito, mas a gente não liga”, afirma Julieth. “Se tempos coragem suficiente de nos vestirmos assim nas ruas, com perucas e roupas quentes para o clima de Salvador, a gente não se importa com as opiniões negativas”, complementa Jeane.

O interesse pela moda japonesa é mais recente. Jeanne conta que foram os animês exibidos pela TV Manchete, a que ela assistia quando criança, que despertaram a atração pela cultura pop do Japão. Foi assim que ela começou a gostar também da música e, pesquisando, descobriu a moda do bairro de Harajuku.

No Bon Odori, além de montarem um estande do Bahia Love Juku para divulgar o grupo, Jeane e Julieth participaram do desfile de moda realizado no domingo (26).

Público de todas as idades

Em função da atração exercida pela cultura pop japonesa através dos mangás e animês, o festival tem um público muito grande de adolescentes que demonstram ter bastante intimidade como esse universo.

Esta foi a terceira vez que Sophia Sinotti, de 14 anos, foi ao Bon Odori. Ela assiste a animês, lê mangás e disse que as amigas da escola compartilham dos mesmos interesses.
No festival, Sophia encontrou com a amiga Marina Garrido, de 14 anos, que não via há 8 meses. E as duas resolveram fazer uma competição para ver quem ganhava mais abraços. Escreveram numa plaquinha “Free Hugs” (abraços grátis), na qual também contabilizavam a quantidade de abraços recebidos.

“É engraçado, a gente está andando e vem uma pessoa do nada, abraça, depois vai embora. Outras pedem que a gente pare, para poderem ler o que está escrito na plaquinha, mas não abraçam”, comenta Sophia.

Enquanto um grupo de crianças assistia atentamente às instruções de como fazer uma pipa, Pérola Resende Câmara, de 70 anos, participava de uma oficina de mangá.

Ela falou que já tinha habilidade com desenho, mas nunca tinha feito mangá, e achou muito interessante as informações sobre expressões de rosto, pintas, sombrancelhas que aprendeu na oficina.

Ela veio ao festival no ano passado e neste ano resolveu ir ao evento nos dois dias, afinal, havia muitas atividades que queria fazer.

“Só não gosto de cozinha, mas artesanato, ikebana, origami, biscuit, tudo isso eu adoro. Hoje (sábado), eles fizeram uma demonstração com aqueles tambores japoneses e depois chamaram as pessoas para participar. Como tenho 70 anos, tive dificuldade com a coreografia, mas adorei aquelas batidas”, disse Pérola.

O interesse pela cultura japonesa foi herdado dos pais, da mãe, principalmente. “Quando ela faleceu, eu trouxe para minha casa um monte de coisas japonesas que minha mãe tinha na casa dela”, conta.  



CRÉDITOS: tribuna da bahia

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